Bell, o telefone e o <em>e-mail</em> - esclarecimentos
De boas intenções está o Inferno cheio. Bem sei. E sobretudo, mais que desculpas pelos erros cometidos, interessa perseverar na correcção dos mesmos erros sem desistir dos intentos. Correcção do modo de apresentação de argumentos num formato restrito requer treino e arte que, reconheço, estou longe de o possuir - fico sempre um pouco tenso quando, algum tempo depois, releio o que escrevi. Estudo suficiente para evitar erros quando se fala do que se não sabe - que é sempre que a urgência ética nos empurra com urgência para abordar um tema. Correcção na clareza do assunto focado - isto é, no deixar claro ao leitor aquilo de que se não fala.
Vem tal a propósito de observações feitas por quem de direito - Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes -, que apreciei. Primeiro, porque o meu texto «Bell, o telefone e o e-mail» foi lido com atenção e sentido crítico, e ainda porque foi lido por quem foi. Segundo, através dessa leitura ressaltaram propostas de correcções, comentários e informações que vou procurar integrar da melhor forma possível. Aliás, é sabido que dos deficientes e do seu movimento o mais habitual é ver participação e luta pela realização dos objectivos. Bem, após algum sobressalto, tornei a pôr os pés, isto é, as mãos que escrevem, ao caminho.
Assim, começa-se por dizer que através do referido texto, e da sua linha mestra de orientação argumentativa, pretendeu-se sobretudo focar a atenção dos leitores para as contradições que os processos de desenvolvimento e inovação transportam consigo. Aliás como quaisquer outros processos desencadeados por humanos ou por forças naturais. No caso em apreço é iniludível que, por razões sensoriais, os diversos meios de comunicação, privilegiando sinais de um ou outro tipo, não podem servir todos os sentidos ao mesmo tempo. E, a meu ver, é bom que as pessoas tenham sensibilidade para estas coisas, e daí, no texto, a restrição no focar do tema.
O puxar do fio
Também é certo que os recursos humanos parecem ser quase inesgotáveis. Nesse sentido, mesmo não tendo antecipados efeitos contraditórios, mesmo deixando-nos ir por aí às cegas, as soluções para os novos problemas criados, mais tarde ou mais cedo, são encontradas. Assim, um século depois de inventado o telefone, apareceu timidamente o videotelefone - uma palavra que junta o vídeo à fonia, mas já não é de telefone que se trata. Mais depressa, do que sobre a invenção do telefone, surgiram, depois da invenção do e-mail as possibilidades de transdução do texto para voz e vice-versa, as quais permitem, a quem não vê, a participação em meios de comunicação que utilizam a escrita(1).
Mas não foi a minha intenção ir por este caminho no texto «Bell, o telefone e o e-mail», por pouco actualizada que a opção tomada parecer. Este género de textos está sujeito a restrições rigorosas de espaço e as decorrentes escolhas - mais felizes ou mais infelizes, de acordo com as recepções - têm de ser efectuadas e a tempo. O produto final deve ser focado (o que nem sempre é fácil). De qualquer forma, já estava nessa altura nos meus planos, e continua a estar, escrever - 2003 até é o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência - sobre esta problemática, incluindo a parte da população que só o vai sendo com o andar da idade.
Agora, outra questão levantada pelo texto «Bell, o telefone e o email». Como o puxar do seu fio veio através de Bell, a sua época não ficou para trás, o que quer dizer que a generalidade das fontes dão-no como professor de surdo-mudos (que só são mudos porque não conhecem sons desde a nascença). Utilizei (literariamente) esta expressão em conjunção com Bell e com o telefone mas ressalvando logo no texto que, afinal de contas, fisiologicamente, do que se trata é de deficiência auditiva. O que é importante para a especificação das necessidades no desenho do acesso para todos - afinal, com o decorrer da idade fica-se surdo sem ficar mudo!
Ainda do artigo «Bell, o telefone e o email». O videotelefone foi aí referido pela introdução na telecomunicação da possibilidade de utilização da vertente gestual da linguagem para além da verbal - quem não pode ver não acede àquela, quem não ouve não acede (sem mais) a esta (e há gradações de visão e de audição desde a sua completa ausência até aos valores considerados normais) -, o que (o videotelefone), no caso de pessoas surdas, lhes permite o emprego da sua língua gestual específica (de facto, no mesmo artigo, a distinção entre os conceitos de linguagem e língua gestual, ambos utilizáveis(2) , não foi efectuada com o rigor exigido).
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(1) Aliás, já muito antes a adopção do Braille permitira a leitura dos textos através do sentido do tacto a quem não podia vê-los.
(2) Ver, por exemplo, artigo de Maria Raquel Delgado Martins na Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura - Século XXI, volume 17, páginas 1273 e 1275.
Vem tal a propósito de observações feitas por quem de direito - Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes -, que apreciei. Primeiro, porque o meu texto «Bell, o telefone e o e-mail» foi lido com atenção e sentido crítico, e ainda porque foi lido por quem foi. Segundo, através dessa leitura ressaltaram propostas de correcções, comentários e informações que vou procurar integrar da melhor forma possível. Aliás, é sabido que dos deficientes e do seu movimento o mais habitual é ver participação e luta pela realização dos objectivos. Bem, após algum sobressalto, tornei a pôr os pés, isto é, as mãos que escrevem, ao caminho.
Assim, começa-se por dizer que através do referido texto, e da sua linha mestra de orientação argumentativa, pretendeu-se sobretudo focar a atenção dos leitores para as contradições que os processos de desenvolvimento e inovação transportam consigo. Aliás como quaisquer outros processos desencadeados por humanos ou por forças naturais. No caso em apreço é iniludível que, por razões sensoriais, os diversos meios de comunicação, privilegiando sinais de um ou outro tipo, não podem servir todos os sentidos ao mesmo tempo. E, a meu ver, é bom que as pessoas tenham sensibilidade para estas coisas, e daí, no texto, a restrição no focar do tema.
O puxar do fio
Também é certo que os recursos humanos parecem ser quase inesgotáveis. Nesse sentido, mesmo não tendo antecipados efeitos contraditórios, mesmo deixando-nos ir por aí às cegas, as soluções para os novos problemas criados, mais tarde ou mais cedo, são encontradas. Assim, um século depois de inventado o telefone, apareceu timidamente o videotelefone - uma palavra que junta o vídeo à fonia, mas já não é de telefone que se trata. Mais depressa, do que sobre a invenção do telefone, surgiram, depois da invenção do e-mail as possibilidades de transdução do texto para voz e vice-versa, as quais permitem, a quem não vê, a participação em meios de comunicação que utilizam a escrita(1).
Mas não foi a minha intenção ir por este caminho no texto «Bell, o telefone e o e-mail», por pouco actualizada que a opção tomada parecer. Este género de textos está sujeito a restrições rigorosas de espaço e as decorrentes escolhas - mais felizes ou mais infelizes, de acordo com as recepções - têm de ser efectuadas e a tempo. O produto final deve ser focado (o que nem sempre é fácil). De qualquer forma, já estava nessa altura nos meus planos, e continua a estar, escrever - 2003 até é o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência - sobre esta problemática, incluindo a parte da população que só o vai sendo com o andar da idade.
Agora, outra questão levantada pelo texto «Bell, o telefone e o email». Como o puxar do seu fio veio através de Bell, a sua época não ficou para trás, o que quer dizer que a generalidade das fontes dão-no como professor de surdo-mudos (que só são mudos porque não conhecem sons desde a nascença). Utilizei (literariamente) esta expressão em conjunção com Bell e com o telefone mas ressalvando logo no texto que, afinal de contas, fisiologicamente, do que se trata é de deficiência auditiva. O que é importante para a especificação das necessidades no desenho do acesso para todos - afinal, com o decorrer da idade fica-se surdo sem ficar mudo!
Ainda do artigo «Bell, o telefone e o email». O videotelefone foi aí referido pela introdução na telecomunicação da possibilidade de utilização da vertente gestual da linguagem para além da verbal - quem não pode ver não acede àquela, quem não ouve não acede (sem mais) a esta (e há gradações de visão e de audição desde a sua completa ausência até aos valores considerados normais) -, o que (o videotelefone), no caso de pessoas surdas, lhes permite o emprego da sua língua gestual específica (de facto, no mesmo artigo, a distinção entre os conceitos de linguagem e língua gestual, ambos utilizáveis(2) , não foi efectuada com o rigor exigido).
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(1) Aliás, já muito antes a adopção do Braille permitira a leitura dos textos através do sentido do tacto a quem não podia vê-los.
(2) Ver, por exemplo, artigo de Maria Raquel Delgado Martins na Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura - Século XXI, volume 17, páginas 1273 e 1275.